Os impactos sociais e econômicos da COVID-19 começam a ser sentidos nas comunidades ao redor do mundo. Em momentos de crise, desigualdades já existentes são agravadas, afetando com mais força as mulheres e meninas, especialmente as negras, indígenas, transexuais, lésbicas, com deficiência, periféricas e aquelas pertencentes a outros grupos vulnerabilizados.
No entanto, são escassas as ações que consideram exclusivamente as necessidades de meninas adolescentes. Historicamente, meninas e mulheres são afetadas desproporcionalmente com a falta de investimento, incentivos e financiamentos e, em um cenário como o que estamos enfrentando, a falta de um olhar sensível às questões de gênero faz com que muito pouco dos recursos destinados às respostas humanitárias seja direcionado às meninas adolescentes que são impactadas de diversas maneiras, incluindo as violações de seus direitos e sua maior vulnerabilidade aos diversos tipos de violência.
Em particular, as taxas de violência sexual, violência baseada em gênero, gravidez na adolescência, casamento infantil, trabalho infantil doméstico, violência contra crianças, e exploração sexual para fins econômicos provavelmente aumentarão. Sabemos que, no Brasil, 70% dos casos de abuso e assédio sexual contra crianças e adolescentes ocorrem dentro de casa. A falta do contato social, importante para a prevenção, deixa as meninas mais expostas à violência sexual dentro de casa. Além disso, antes da pandemia, o Brasil já era o 4º país no ranking mundial de casamento infantil, e agora, em um contexto agravado pelas dificuldades econômicas da crise, essa situação tende a piorar. Por isso, mais do que nunca, precisamos de políticas e programas específicos às meninas e mulheres para protegê-las nesse contexto, mas também para possibilitar a promoção e garantia de seus direitos.
A Empodera, através de seus programas e projetos, utiliza o esporte e jogos para criar espaços seguros para meninas adolescentes desenvolverem habilidades importantes para a vida. Dessa forma, combinamos as atividades esportivas e práticas corporais com a discussão de temas-chave para o empoderamento de meninas, como liderança, comunicação, saúde, direitos sexuais e reprodutivos, enfrentamento à violência contra as mulheres e educação financeira. Nesse processo, elas se conscientizam sobre os problemas que afetam suas realidades e desenvolvem todo seu potencial para promoção de mudanças significativas em suas próprias vidas e em suas comunidades.
Frente ao aumento da vulnerabilidade decorrente da crise da COVID-19, é um fato que os recursos, especialmente para o esporte, serão mais escassos no pós-pandemia, na medida em que haverá outras prioridades. Entretanto, é fundamental o entendimento da importância do investimento no esporte como uma estratégia para o desenvolvimento humano e redução das violências contra meninas e mulheres.
Nosso foco imediato é colaborar para que a Empodera e todas as organizações parceiras sejam fortes o suficiente para resistir a essa crise. E quando ela passar, que continuemos juntas e juntos na construção das mudanças para uma sociedade mais justa e equânime.
Como ações concretas, a Empodera está investindo no fortalecimento da sua capacidade institucional e das organizações parceiras em apoiar as famílias mais vulneráveis dos territórios em que se localizam no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, estamos construindo estratégias para melhor apoiar as meninas que participam de nossos programas e suas comunidades. Estamos trabalhando com nossas parceiras para projetar alternativas à nossa agenda regular para que atendam às prioridades imediatas das comunidades.
A Empodera se compromete com quatro princípios-chave que nortearão nossa resposta a esta crise:
- Enfrentar a violência contra meninas e mulheres;
- Reconhecer o potencial das meninas para liderar e apoiá-las para assumir papéis de liderança nas respostas à COVID-19;
- Priorizar a experiência de meninas, territórios e organizações locais, para, quando possível, transferir recursos e apoiar as estratégias das instituições parceiras, buscando reduzir os impactos negativos dessa crise;
- Investir no fortalecimento do esporte como uma ferramenta para a redução das desigualdades que acometem meninas e mulheres, a partir do desenvolvimento de metodologias, participação em redes e construção de uma agenda comum entre diversas organizações.