Autora: Fernanda Tiemi para Empodera

Desde sua origem na Grécia Antiga os Jogos Olímpicos vetavam a participação de mulheres no evento, tanto na torcida quanto na Arena Olímpica. Ao longo da história, partindo da antiguidade até os dias atuais, as mulheres continuaram a lutar para ocupar seu lugar no universo esportivo, competindo como iguais, assim como em tantos outros aspectos da vida. Devido à luta e mobilização, o espaço das mulheres foi sendo ampliado nas arquibancadas e nas diferentes modalidades esportivas, alcançando 48,8% de participação de atletas mulheres nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Para nos inspirar a continuarmos avançando na garantia dos direitos das mulheres e da equidade de gênero nos esportes, compartilhamos 4 momentos marcantes da história na marcha pela igualdade de gênero nos Jogos Olímpicos.
- A maratona sem adversários, medalha e torcida
Em 1896 ocorreu a primeira versão dos Jogos Olímpicos na Era Moderna. Ao fim do século 19, a participação das mulheres ainda era proibida pelo comitê organizador. Porém movimentos sociais vinham se fortalecendo ao redor do mundo e demandavam a abertura de espaços na sociedade para as mulheres, sendo um desses espaços o universo esportivo. A atleta grega Stamati Revithi desafiou o mundo com sua participação não oficial nos jogos. Como forma de protesto, ela correu pelo percurso da maratona disputada pelos homens um dia após a competição, do lado de fora do estádio. Ela finalizou o percurso em 4 horas e meia – índice menor do que o de muitos outros atletas, mas mesmo assim não teve o reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional (COI).
- Os Jogos Olímpicos abrem as portas
Após o ato de manifestação da atleta Stamati Revithi, a segunda edição dos Jogos Olímpicos na Era Moderna que ocorreu em Paris (1900) abriu um pequeno espaço para a participação das mulheres. A edição, que contava com 997 atletas ao todo, teve a participação de apenas 22 mulheres, devido às restrições da prática esportiva de algumas modalidades. Outro impeditivo é que, mesmo com a liberação da participação de mulheres nos jogos, muitos países, inclusive o Brasil, proibiam por lei que suas mulheres praticassem. Os únicos esportes que as mulheres poderiam jogar eram os que não incluíam contato físico com colegas ou adversárias (golfe e tênis). Ao contrário dos atletas homens, as mulheres não tiveram premiação, apenas a emissão de certificados de participação.
- A competição ganha seriedade
Sofrendo com restrições, falta de patrocínio e boicotes, as atletas mulheres se mobilizaram e criaram os Jogos Mundiais Femininos, uma versão voltada para mulheres dos Jogos Olímpicos que abriu espaço para que elas pudessem competir em mais modalidades. Os Jogos Femininos tiveram 4 edições de 1922 (ano de sua criação) a 1934. Com o aumento da popularidade dos Jogos Femininos Olímpicos, o COI se viu forçado a incorporar as competições femininas nas Olimpíadas, com direito ao pódio e menos restrições. Nas edições de 1940 e 1944, as mulheres se mobilizaram para aumentar o volume da sua participação, mas foi só a partir da década de 60 que o número passou a crescer significativamente. Sendo que apenas em 2000 a participação de mulheres se aproximou da proporção de 50% do total dos competidores.
Pode-se dizer que a participação das mulheres ganhou mais força com o pós-guerra, acompanhando movimentos feministas pela disputa de espaços na sociedade, como no ambiente de trabalho e no universo acadêmico. No entanto, essa disputa ainda enfrentava barreiras e fantasmas da história mundial, além de lidar com diferenças culturais e políticas. Enquanto algumas nações incentivavam as mulheres nos esportes, outras proibiam ou atribuíam senso de valor negativo a essas atletas.
- Enfim… o fim das restrições nas modalidades esportivas
Cidade de Londres, 27 de julho de 2012. Este foi o local e data da primeira edição dos Jogos Olímpicos sem restrições de modalidades para as mulheres. Isto é, após 116 anos de história das Olimpíadas na Era Moderna, as mulheres puderam competir em todas as modalidades, sendo o boxe o último esporte a incluir uma categoria para as mulheres. No entanto, devido a tabus, falta de incentivo e preconceitos, mesmo com a total liberação de categorias, determinadas modalidades não possuíam atletas mulheres suficientes para competir. Ou seja, mesmo com as barreiras formais sendo derrubadas, ainda persistem diversas barreiras que dificultam a igualdade de participação nos Jogos Olímpicos.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio já entraram para a história como a edição olímpica com maior participação de atletas mulheres. Mesmo com essas novas conquistas no horizonte ainda existem diversos desafios e barreiras a serem enfrentados para que o universo esportivo, especialmente o olímpico, se torne cada vez mais igual e justo, simbolizando de verdade o valor que os esportes trazem à humanidade.
Fontes:
https://www.efdeportes.com/efd179/mulheres-nos-jogos-olimpicos.htm
http://www.sportsinbrazil.com.br/livros/as_mulheres_jogos_olimpicos.pdf
http://www.olimpiadatododia.com.br/curiosidades-olimpicas/250498-historico-mulheres-nas-olimpiadas/
http://www.sae.digital/mulheres-nas-olimpiadas/