A evolução do engajamento e visibilidade da luta das mulheres por adequação dos uniformes nas Olimpíadas de Tóquio.

Nestes Jogos Olímpicos de Tóquio, muitas pautas relacionadas ao machismo no esporte estão sendo discutidas e divulgadas pelas grandes mídias, aumentando, assim, o engajamento e a visibilidade dessas questões.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, muitas pautas relacionadas ao machismo no esporte foram sendo discutidas e divulgadas pelas grandes mídias, aumentando, assim, o engajamento e a visibilidade dessas questões. 

Uma das principais discussões que vieram à tona desde o início dos jogos foi a questão das regras referentes aos vestuários das atletas, que tem gerado questionamentos a respeito da sexualização dos corpos das mulheres no esporte. Em várias modalidades, os modelos de uniformes seguem parâmetros e padrões muito diferentes dos uniformes masculinos. Isso não apenas pode causar um desconforto nas atletas, mas também levanta uma importante questão sobre a objetificação dos seus corpos.

Um dos principais casos que trouxe o assunto a público, foi o ocorrido com a seleção norueguesa feminina de handball de praia, que compareceu ao jogo usando top e short em vez do biquíni padrão estipulado pela confederação internacional do esporte. A organização especificamente requer que o uniforme seja “com corte em um ângulo ascendente em direção à parte superior da perna” e “com largura lateral máxima de 10 centímetros”.

Em fotos do time masculino e feminino de handebol, é possível notar grande diferença de cobertura dos uniformes, deixando claro que não existe uma explicação que seja possivelmente técnica relacionada a performance em jogo para existir a devida regra. De toda forma, apesar disso, o time foi multado em cerca de 1,5 mil Euros onde alegam “trajes inadequados”, e ainda foi obrigado a jogar usando o uniforme de acordo com a regra. O ocorrido gerou indignação em muitos e também comoveu a cantora Pink, que se ofereceu para pagar a multa pelas atletas como forma de suporte e incentivo a esta causa que é tão importante.   

Em contrapartida, pouco antes dos jogos Olímpicos começarem, a atleta paraolímpica Olivia Breen usou seu Twitter para denunciar que havia ouvido de um oficial no campeonato de atletismo inglês que os seus shorts eram “reveladores demais”. Mas, não é de hoje que os uniformes femininos são questionados em diferentes contextos. Outro caso importante de se comentar, foi a exposição causada pelo hijab usado pela atleta de vôlei de praia egípcia, Doaa Elghobashgy, nas olimpíadas do Rio em 2016. Na ocasião, a foto da atleta jogando viralizou ganhando destaque nos maiores jornais do mundo. Questionada sobre sua vestimenta, Doaa respondeu na época: “Visto o ‘hijab’ há dez anos. Isso não me impede de fazer as coisas que eu amo, e vôlei de praia é uma delas” deixando pro mundo o início de uma discussão importantíssima para o esporte feminino. 

São problemas contraditórios, mas dois lados da mesma moeda, onde os corpos das atletas são vistos como propriedade pública onde outros podem decidir o que é adequado ou não por questões estéticas e não técnicas relativas ao esporte. 

O movimento pela democratização dos uniformes é antigo, mas devido às ocorrências que acontecem de mais em mais desde as últimas edições Olímpicas, como os casos dos uniformes de handebol norueguês e o hijab egípsio, vemos crescer a quantidade de atletas ativistas e empoderadas, como as atletas da ginástica alemã, por exemplo, que decidiram participar dos jogos substituindo os tradicionais collants por macacões que cobrem até os tornozelos, exercitando o seu direito de se sentirem confortáveis e seguras em suas práticas esportivas.

Todas essas manifestações de questionamento da sexualização dos corpos das atletas são indispensáveis para que possamos transformar o ambiente esportivo em um espaço inclusivo e democrático. A visibilidade que as atletas olímpicas possuem para chamar a atenção dessa pauta é uma estratégia muito importante para tal realização. Mas as estratégias precisam vir de diferentes frentes para que a transformação seja efetiva e sustentável. Como organização da sociedade civil, a Empodera promove, tanto em seu trabalho em rede, como por meio de suas metodologias e programas, o questionamento sobre as desigualdades de gênero no esporte, co-construindo o olhar de que o uniforme também faz parte da criação de espaços seguros e inclusivos para as meninas e mulheres no esporte.  

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